Um pai-mãe aos 78 anos – Sergio Agra

Meus sete generosos e leais leitores hão de estar intrigados quanto ao ligeiramente surreal título deste artigo e, ao mesmo tempo, se questionando se efetivamente o período sabático que eu…

Meus sete generosos e leais leitores hão de estar intrigados quanto ao ligeiramente surreal título deste artigo e, ao mesmo tempo, se questionando se efetivamente o período sabático que eu me impusera serviu para clarear-me as ideias.

Meu querido amigo/irmão, o escritor José Alberto Silva, após meio século de pertinácia, de birrenta resistência, lançou, aos 78 anos, no dia 26 de maio último, no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, sua primeira, porém inspiradora obra, ‘Almanaque de Flores, Beijos e Mentiras’. O projeto, que reúne poesias, crônicas, cartas e homenagens, marca a bombástica estreia literária do autor.

Um pai-mãe aos 78 anos - Sergio Agra
Divulgação

A ideia da obra é de tecer memórias afetivas e coletivas, que se passam na cidade de Porto Alegre. “Lançar este livro é um ato de amor à comunidade negra, um resgate de vivências, dores e ideias que, embora muitas vezes não valorizadas, são compartilhadas por muitas pessoas”, diz José Alberto.

O livro tem realização da Frente Negra Gaúcha, com a utilização do selo FNG Editorial. A idealização da obra foi da produtora cultural Silvia Abreu, com curadoria de Camila Botelho e projeto gráfico assinado por Maria Helena dos Santos.

A alegria que literalmente explodiu no meu peito é facilmente explicável. Nos cinquenta e oito anos de sincera camaradagem – fomos colegas de aula no Ensino Clássico do Colégio Estadual Júlio de Castilho e colegas de trabalho no IPERGS – muitas foram minhas tentativas de quebrar o gelo daquela obstinada teimosia do Zé Alberto e trazer do fundo das gavetas o mais de milhar – não estou exagerando! – de seus textos recheados do humor cáustico, da sagacidade, da ironia, do primor e da finesse que somente o Bruxo do Cosme Velho soube enriquecer sua obra.

Foram quase três anos reunindo e organizando as folhas espalhadas a esmo – os poetas e sonhadores jamais foram organizados –, ainda “datilografadas”, para finalmente brotar nessa obra madura, abundante de amor à sua comunidade no resgate de vivências, dores e ideias…

Alegria porque “venci a batalha” ao trazer e manter por bons anos o Zé, juntamente com meu caríssimo e hoje saudoso amigo Jorge Alberto Vignoli, nas “páginas” do e-News Litoralmania. Alegria e orgulho porque ambos – meus afilhados naquela gazeta eletrônica –, após aquela prazerosa experiência, deixaram seu legado na publicação de seus livros: Vignoli foi o autor de ‘A Praça Júlio de Castilhos e a Turma do Murinho’ – (Crônicas) – e José Alberto Silva, no verdor de seus 78 anos com o seu instigante ‘Almanaque de Flores, Beijos e Mentiras’.

Ah, por que Pai-Mãe?

O ato de escrever é, quase sempre, solitário. No entanto, sem o inferno dos outros não há literatura. Isso não quer dizer que o escritor tenha de pensar sempre em agradar aqueles que o lerão. Pode escrever apenas para o leitor ideal, ou para ele mesmo, numa obsessão que o impele à escrita mesmo que não tenha a menor ideia se alguém irá ler aquilo. Move-lhe uma força interior que não o deixa ficar sem colocar palavras em um papel.

Há uma grande diferença entre escrever e ser lido.

E, por ser literatura, a poesia e o amor estão no uno Pai-Mãe, jamais no partenogênese.

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Jornalista com formação pela UNISINOS (2010) e fundador do Litoralmania, o portal de notícias mais antigo em atividade no interior do RS. Atua desde 2002 na gestão completa do veículo, com ampla experiência em jornalismo digital, produção de conteúdo, projetos e relacionamento com o público.

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